A Unidade de Investigação Económica (EIU) do grupo da revista Economist alerta para a possibilidade de se estar a criar uma nova «bolha» bolsista de empresas de Internet cotadas.
Numa análise do seu economista chefe, Robin Bew, a EIU assinala que um número crescente de companhias Internet está a entrar em bolsa e as suas altíssimas cotações estão a gerar uma onda de interesse dos investidores.
Com os rumores de que estariam na forja novas ofertas públicas de aquisição, este ano poderemos ter um pico de entradas de companhias online no mercado de valores, um cenário que traz preocupações quanto à possibilidade de se estar a formar uma nova «bolha» bolsista de empresas Internet, acrescenta.
Robin Bew destaca que a rede social LinkedIn se valorizou em 578 vezes em relação ao ano passado desde que entrou na bolsa de Nova Iorque (NYSE) em 19 de Maio de 2010. Muita tinta tem corrido sobre se a excessiva valorização daquela companhia, particularmente tendo em conta o facto de que a empresa espera prejuízos este ano, é o último sinal de formação da «bolha» Internet.
Bew recorda que a bolha especulativa das «dotcom» de 1995/2000 foi um fenómeno principalmente dos Estados Unidos, mas a «bolha» que parece estar actualmente a formar se é um fenómeno global.
As companhias Internet dos mercados emergentes parecem estar a causar muita excitação entre os investidores, que estão entusiasmados com a possibilidade de capitalizar as enormes oportunidades oferecidas por mercados de alto crescimento como a China (que tem a maior população de internautas do mundo e com o mais rápido aumento) ou Rússia.
Renren, uma rede social muitas vezes classificada como o Facebook chinês, foi a última das companhias Internet chinesas entrar no início de Maio na bolsa norte americana, estreando-se com uma cotação 72 vezes superior ao seu valor de 2010.
Yandex, o motor de busca mais popular na Rússia e a companhia Internet daquele país com maiores receitas, entrou na bolsa a 24 de Maio com um valor 60 vezes superior ao que tinha no ano passado, enquanto esse rácio é de 20 vezes no caso da norte americana Google.
Segundo Robin Bew, os que defendem que não há risco de bolha afirmam que os investidores se estão a concentrar num pequeno número de empresas líderes, com modelos de negócio sólidos e perspectivas de receitas, ao contrário das empresas Internet dos anos noventa, que geravam baixas receitas.
Assim, embora as acções estejam sobrevalorizadas, a aposta está concentrada num grupo de companhias que provavelmente terão êxito no longo prazo, como foi o caso da Google, segundo a mesma tese. Argumentam, também, que as medidas de valor das companhias tradicionais não se aplicam necessariamente às empresas Internet.
Robin Bew sublinha que os problemas podem estar a fermentar longe da vista: embora 80% das companhias tecnológicas cotadas estejam a transaccionar-se dentro do intervalo dos seus valores históricos e as operações públicas de aquisição recentes sejam poucas, as valorizações nos mercados privados são estratosféricas.
Há muita especulação em torno de futuras aquisições de companhias Internet de topo, como o Facebook, que está valorizado em 76 mil milhões de dólares (mais de 52 mil milhões de euros, quase um terço do PIB português), mais do que a Boeing ou a Ford, observa Bew.
Embora muitas das companhias estejam a operar com fundamentais saudáveis, as suas valorizações podem flutuar no mercado accionista.
«A questão é se [a bolha] rebenta mais cedo do que mais tarde», observa Robin Bew, sublinhando que isso depende de se essas companhias desencadeiam um interesse por firmas menos saudáveis que procuram rivalizar com as suas homólogas de maior êxito e se aquelas conseguem abrir o forte apetite dos investidores por tudo o que está relacionado com a Internet.