Entre os Censos 2011 e 2021, a população residente em Portugal diminuiu, apesar do aumento do número de estrangeiros, envelheceu e aumentou a escolaridade, segundo os dados definitivos do Censos 2021, hoje divulgados pelo INE.
O peso dos estrangeiros na população residente passou de 3,7% em 2011 para 5,2% em 2021, atingindo 542 314 pessoas em Abril do ano passado.
O presidente do Instituto Nacional de Estatística, Francisco Lima, destacou que esta operação censitária decorreu em condições muito difíceis, com um momento censitário (aquele a que devem referir-se as respostas, 19 de Abril) em plena pandemia de Covid-19, chegando a ser equacionado o seu adiamento.
Na apresentação dos resultados, Francisco Lima adiantou nas duas semanas em que decorreu a recolha (ou recepção no caso das respostas por Internet, que tiveram uma adesão expressiva) estiveram 15 mil pessoas envolvidas, entre técnicos do INE e recenseadores, com a colaboração de todo o poder e várias instituições, incluindo a Direcção-Geral de Saúde.
Indicou que há ainda muito por explorar dos resultados do Censos 2021 e vão-se realizar uma série de análises temáticas e disse que aquela operação censitária poderá ser a última com as actuais características, observando que nos países nórdicos o sistema estatístico baseia-se em dados administrativos, um sentido em que o INE está a trabalhar há uns anos.
Admitiu que o INE ainda está longe de alcançar esse objectivo, que é “um desafio aliciante” e um caminho que está a ser trilhado por vários países, e alertou para a necessidade de complementar dados administrativos com resultados de inquéritos.
O presidente do INE revelou que pela segunda vez desde que começaram a realizar-se censos à população, no século XIX, em 1864, a população residente em Portugal diminuiu, invertendo a tendência das últimas quatro décadas e repetindo a queda que aconteceu nos Censos de 1970, culminando uma elevadíssima emigração nos anos sessenta.
O Censos 2021 indica que em Abril desse ano havia pouco mais de 10,343 milhões de residentes em Portugal, um decréscimo de 2,1%, sendo 4 920 220 homens e 5 422 846 mulheres, e revela um acentuar do desequilíbrio da distribuição dos residentes pelo território.
A população apenas aumentou no Algarve (3,6%) e na Área Metropolitana de Lisboa (1,7%), caindo 7,0% no Alentejo, 6,4% na Madeira, 4,3% no Centro, 4,2% nos Açores e 2,8% no Norte.
Os sete municípios mais populosos, com uma área de 1,1% do território, congregam um quinto da população residente, aproximadamente o mesmo que os 208 menos populosos, que ocupam quase dois terços da superfície do país.
Agravou-se o envelhecimento da população residente, de 128 idosos por 100 jovens em 2011 para 182 idosos por 100 jovens em 2021. A idade média da população em Abril do ano passado era de 45,4 anos, que compara com 42,3 anos 10 anos antes.
Entre 2011 e 2021 assistiu-se a uma diminuição em todos os escalões etários até 39 anos, com maior incidência no escalão dos 30 aos 39 anos, ao mesmo tempo que aumentou o peso dos grupos etários acima dos 40 anos.
Neste contexto, não espanta que por cada 100 pessoas que abandonam o mercado de trabalho apenas entrem de novo 76 (94 em 2011).
Os Censos 2021 revela que a população com 65 ou mais anos representa 23,4% dos residentes, quase o dobro da população até aos 14 anos, que pesa apenas 12,9%
O número de núcleos familiares monoparentais aumentou, para 579 971 em 2021, representando 18,5% do total de famílias, dos quais 85,6% eram constituídos por mãe e filhos e 14,4% por pais e filhos.
O Censos 2021 indica que 43,5% dos residentes em Portugal eram solteiros, os com estado civil casado 41,0%, os divorciados 8,0% e os viúvos 7,5%. Face a 2011, a população casada perdeu 2,1 pontos percentuais e a divorciada ganhou 2,0 pontos percentuais.
Do lado dos portugueses que saíram do país, havia em Abril do ano passado 1 608 094 antigos emigrantes que tinham já regressado a Portugal, com destaque para os estiveram em França (23,2% do total), Angola (14,0%), Suíça (8,1%), Brasil (7,2%), Moçambique (6,5%) e Alemanha (6,3%).
Mais de 1 milhão de pessoas viviam em união de facto, um crescimento de 38,2% em 10 anos, sendo o Algarve a região com maior proporção de uniões de facto, com 15,5%, e o Norte com a menor (8,8%).
Fernando Valdez