A tecnológica portuguesa Priberam, que desenvolve soluções de processamento computacional da língua portuguesa, apresentou hoje versão 11 da sua ferramenta FLiP, 26 anos depois do primeiro lançamento, em 1995, com corrector ortográfico, dicionário de sinónimos e hifenizador para português europeu.
Em conferência de imprensa por Internet, Carlos Amaral, presidente executivo (CEO) e fundador da Priberam, sublinhou que inicialmente o FLiP (Ferramentas para a Língua Portuguesa) tinha uma abordagem muito tradicional, mas actualmente usa aprendizagem automática e aprendizagem profunda, através de ferramentas de «machine learning» e inteligência artificial.
O FLiP 11 inclui, além do corrector ortográfico, dicionários de sinónimos e antónimos, dicionário Priberam e dicionários temáticos, hifenizadores, conjugadores de verbos e auxiliares de tradução, permite a opção de utilização ou não do novo Acordo Ortográfico (AO) e suporta variedades de léxico de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, sendo esta última uma das novidades da versão 11, precisou.
O CEO da empresa assinalou que em 1997 o FLiP 97 integrou dicionários temáticos, em 2000 o FLiP 3 passou a dispor correcção ortográfica automática e no ano seguinte passa a integrar o Microsoft Office, mantendo-se até ao Office 2019 e em 2007 sai o novo corrector Aurélio, desenvolvido pela Priberam para o Brasil, que em 2009 incluiu corrector sintático para o Brasil.
Observou que em 2003 sai o FLiP:mac com corrector ortográfico de português, mas com o sistema operativo MacOS X a ter corrector próprio, a Apple alterou a sua filosofia e não permitiu a venda do FLiP na sua App Store, isso limitou brutalmente as vendas e a Priberam foi obrigada a desistir do produto.
Acrescentou que o FLiP 8, saído em 2010, passa a integrar variedades de português de todos os países de língua portuguesa e o dicionário Priberam.
Carlos Amaral destacou que a Microsoft optou por ter ferramentas próprias para todos os países do mundo e já não usa o FLiP, que é, no entanto, utilizado pelos principais meios de comunicação social em Portugal e mesmo no Brasil, pela Comissão Europeia, pela Imprensa Nacional/ Casa da Moeda e outras entidades.
Carlos Amaral assinalou que a Priberam foi fundada em 1989 e emprega hoje mais de três dezenas de trabalhadores, tem fortes ligações à Universidade e a Institutos de Investigação e está presente na área da informação jurídica (com o LegiX), desenvolve ferramentas viradas para os media digitais, nomeadamente o INSIGHT de monitorização dos media com ferramentas automáticas, e na área da saúde, com ferramentas que analisam os documentos clínicos.
Helena Figueira, especialista em linguística que trabalha com a Priberam, destacou as diferenças entre a qualidade do FLIP e do corrector do Office, nomeadamente na opção entre as grafias pré-acordo e pós-acordo (o Office admite uma opção pelos dois em simultâneo), no reconhecimento de vocábulos da linguagem corrente, que o FLiP admite, e na qualidade dos léxicos.
Acrescentou que em ambos os modos (pré e pós AO) o Office aceita algumas grafias exclusivas do léxico brasileiro e reconhece formas exclusivas do português do Brasil (como eletrônica e fenômeno), não reconhece alguns termos que constam dos dicionários temáticos do FLiP, como cometário (de cometa), e aponta falsos erros.
A Priberam estima que o Flip 11 tem uma capacidade de correcção de erros cerca de cinco vezes superior ao corrector do Office e indica que o FLiP é compatível com o Windows 10, o Microsoft Office 2019, o Open Office e as versões mais recentes das aplicações da Adobe.
Carlos Amaral salientou que o FLiP «tem um cheirinho» de tecnologias de inteligência artificial e «machine learning», nomeadamente para algumas correcções sintáticas com base na análise do contexto da frase, utilizando algoritmos, e já permite verificar alguns erros de semântica.
Recordou que a Priberam foi uma das cinco empresas europeias escolhidas para o projecto SELMA, que permitirá rapidamente traduzir informação e conteúdos em 30 idiomas, incluindo para legendagem ou dobragem, devido às suas competências em inteligência artificial e em linguistica.