Portugal precisa de reforçar o investimento político e financeiro nas TIC

Publicado em 24/01/2020 22:27 em Destaques

Portugal não está muito bem nos vários índices internacionais que medem a posição dos países nas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e precisa de reforçar o investimento político e financeiro no desenvolvimento das TIC, defendeu Luís Melo Campos, autor do estudo «O Setor TIC em Portugal (século XXI)».

Falando esta semana no Encontro «O Sector das TIC em Portugal», promovido pela Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação (APDSI), Luís Melo Campos indica que no Índice de Digitalização Economia e Sociedade (IDES), da Comissão Europeia, Portugal desce do 17.º lugar em 2017 para o 19º entre os 28 Estados membros, apesar de melhorar a pontuação, o que quer dizer que «os outros estão a correr mais depressa do que nós».

Melo Campos, que pertence ao Gabinete de Estratégia e Estudos GEE) do Ministério da Economia, faz notar que o seu estudo é da responsabilidade exclusiva do autor e não reflecte necessariamente as posições do GEE.

O autor salientou que na dimensão capital humano Portugal está em má posição por ter menor literacia digital e indicou que a percentagem de licenciados nas áreas TIC em Portugal é 1,2% do total, menos de metade dos 2,5% da UE.

Observou que a infra-estrutura portuguesa de conectividade é boa, mas uma parte da população não usa as suas potencialidades porque é cara em termos relativos e por baixa literacia digital, que também afecta o uso dos serviços públicos digitais.

O autor do estudo opinou que ficar à espera da substituição de gerações para resolver o problema da baixa literacia digital em Portugal «é curto», não pode ser só por aí, e recordou que o recrutamento de licenciados em Portugal é inferior à média da UE.

Citando dados de 2015 (últimos disponíveis) do Eurostat (Departamento de Estatísticas das Comunidades Europeias), Luís Melo Campos destacou que Portugal ocupava o último lugar dos 28 Estados da União Europeia (UE) no peso do Valor Acrescentado Bruto (VAB) das TIC no PIB e o penúltimo lugar (27.º) no peso do emprego TIC no emprego total.

Observou, no entanto, que as exportações TIC têm um peso mais alto do que a média, o sector tem uma mão-de-obra bastante mais qualificada do que a média das empresas e a sua remuneração média excede os 20 mil euros por ano, o dobro dos cerca de 10 mil de média nas empresas não financeiras.

No entanto, o recrutamento de licenciados TIC em Portugal é inferior à média europeia.

Luís Campos considerou que o sector TIC está saudável em Portugal, mas relevou que o controlo destas empresas por capital estrangeiro é maior do que no conjunto da economia e nas grandes empresas de TIC é mesmo maioritário.

Defendeu que pela sua importância social e económica em Portugal, o sector das TIC «deveria ser acarinhado».

José Dias Coelho, presidente da Mesa da Assembleia Geral (MAG) da APDSI, salientou que o contexto das TIC no século XXI é de crescimento explosivo, a robótica não tem parado de crescer e não vai parar, cada vez se fala mais em robots humanóides, estão a dar-se os primeiros passos na computação quântica e estamos a chegar a um ponto em que a inteligência artificial se começa a aproximar de algumas capacidades humanas.

Sublinhou que hoje há velocidades de transmissão de dados que não têm nada a ver com as de há alguns anos, as redes sociais têm um papel cada vez mais importante na vida das pessoas, as redes sociais são impositivas em tudo e os que nelas participam estão constantemente a ser incentivados a participar e, portanto, a deixar mais dados.

Dias Coelho destacou que com a nuvem e o grande aumento da capacidade de armazenamento é possível registar tudo o que as pessoas fazem e há hoje em dia capacidade para captar, armazenar e manter os dados de toda a gente.

Recordou que, com a evolução da tecnologia, houve muitas profissões que desapareceram e muitos sectores, como a banca, têm vindo a perder muito emprego, o que também vai acontecer no jornalismo, a inteligência artificial vai substituir funções humanas, as guerras do futuro vão utilizar robots, o general iraniano foi morto por um.

O presidente da MAG da APDSI disse que há milhões de novas apps e muitas delas estão ligadas a pequenos negócios.

Dias Coelho assinalou que a identificação da iliteracia digital como travão ao desenvolvimento da economia digital está feita há muitos anos e é por isso é estranho que não tenha havido mais políticas activas para ultrapassar a situação.

«Foi feito muito pouco e isso pesa em todos os indicadores», concluiu.

A presidente da Direcção da APDSI, Maria Helena Monteiro, defendeu que é preciso introduzir mais formação no digital nos cursos de humanidades.

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