A empresa de segurança informática Sophos revela que descobriu no Play Market, da Google, um conjunto de aplicações Android que aproveitam um modelo de negócio disponível naquele ecossistema, que permite um teste gratuito de curta duração, passando depois a ser pago se o utilizador não desistir.
Alberto Rodas, engenheiro de vendas da Sophos Iberia, indica que numa aplicação normal isto poderia custar apenas alguns dólares (ou euros, dependendo da região de residência) mas os criadores ou editores de algumas aplicações básicas cobram centenas de dólares ou euros.
A Sophos adianta que aquelas aplicações não têm códigos maliciosos e algumas têm funcionalidades uteis mas redundantes, sublinhando que ninguém acha justa a cobrança de mais de 100 ou mesmo mais de 200 dólares ou euros por aplicações com um leitor de código de barras, calculadoras, ferramentas para criar gifs ou um filtro de fotografias.
Rodas salienta que aquelas aplicações, que a Sophos baptizou de «fleeceware» (de fleece, tosquia), estão numa zona cinzenta em que não podem ser consideradas malware ou spam mas cobram excessivamente aos utilizadores por aplicações que estão disponíveis gratuitamente ou a custos reduzidos.
Mas uma aplicação de leitor de códigos QR cobra 104,99 euros ao fim de 72 horas após o início da inscrição para período de testes e outro desconta 214,99 euros ao fim de três dias do período de teste da aplicação denominada Proefessional GIF Maker.
Rodas destaca que as aplicações em causa são muito básicas e têm um período de teste, geralmente de três dias, após o que começam a ser cobradas.
A aplicação requer que registem dados de pagamento para poder ser utilizada e muitos utilizadores pensam que basta desinstalar a aplicação para haver cancelamento e não lhe poderem cobrar, tanto mais que muitos não costumam ler as letras pequenas.
«Mas os programadores da aplicação não pensam assim», ironiza.
A Sophos indica que em comentários nessas aplicações de «fleeceware» os utilizadores queixam-se mesmo de que não conseguiram cancelar o período de teste.
A Sophos salienta que após a cobrança é praticamente impossível recuperar o dinheiro porque as aplicações realizam as funções que anunciam (geralmente básicas), seguem as regras de compra da Google Play Market e não são maliciosas. Algumas aplicações anunciam que a cobrança é mensal e o valor, exorbitante para a complexidade da app, é cobrado mais do que uma vez ou vários meses, até que seja cancelada.
A Sophos indica que contactou a Google para perceber se as condições daquelas aplicações, com valores muito altos por aplicações básicas, violam as regras da loja Android da multinacional, mas não obteve resposta.
Depois de insistir enviando uma lista de 15 aplicações, um representante da Google respondeu que a empresa decidiu retirar algumas das aplicações indicadas pela multinacional de segurança britânica.
A Sophos contabilizou a retirada de 14 das 15 apps que indicou.
A companhia britânica dá o exemplo de três aplicações Android em que o valor cobrado é 219,99 euros, outra de 114,99 euros e cinco com um preço de 104,99 euros e que continuam disponíveis na loja online da Google.
Resta-me destacar que se trata de aplicações que são vendidas na loja oficial da Google, que cobra aos desenvolvedores de aplicações uma percentagem das suas receitas de vendas na loja.
E todos sabemos que muitos utilizadores não lêem as letras pequenas, além de muitos nem sequer lerem com atenção as longas condições enunciadas na Internet, incluindo as relativas a privacidade.
Fernando Valdez