O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, foi ouvido pelas duas câmaras do Congresso dos Estados Unidos onde foram manifestadas preocupações quanto ao respeito pela protecção dos dados pessoais dos utilizadores da rede social e admitida a necessidade de reforçar a regulação sobre estas matérias.
Zuckerberg depôs terça-feira no Senado dos Estados Unidos e quarta na Câmara dos Representantes e, segundo notícias publicadas no New York Times (NYT) da autoria de vários repórteres do jornal, esteve também presente o escândalo da utilização de informação pessoal de dezenas de milhões de utilizadores do Facebook pela Cambridge Analytica, alegadamente utilizada para manipulação das últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos.
Toda a informação difundida nesta notícia baseia-se na publicada pelo New York Times.
Segundo o NYT, o senador John Thune, do Dakota do Sul, evocou a necessidade de o Facebook evitar criar um pesadelo em matéria de privacidade e vários senadores, duvidaram da capacidade de auto-regulação daquela rede social, que repetidamente não cumpriu as suas promessas de privacidade, e apontaram a necessidade de aprovar regulação que protegesse os dados pessoais.
O senador democrata do Illinois Richard Durbin questionou o CEO do Facebook se se sentiria confortável a dizer ali em que hotel ficou e as pessoas a quem enviou mensagens na véspera, ao que Zuckerberg respondeu que provavelmente escolheria não o publicitar.
Durbin explicou-lhe se trata do direito de Zuckerberg à privacidade, dos limites do seu direito à privacidade.
Zuckerberg afirmou que o Facebook está a investigar muitas apps e banirá as que estão a fazer algo incorrecto, mas o senador Kamala Harris quis saber se o Facebook tomou a decisão de não informar os utilizadores sobre a questão da Cambridge Analytica, quando soube em 2015 que os dados foram vendidos a uma consultora política.
«Estou a falar de notificar os utilizadores. E isto está relacionado coma questão da transparência e da confiança: informar os utilizadores em relação a como a sua informação pessoal tinha sido indevidamente usada», acrescentoui Harris.
Zuckerberg não admitiu que a companhia tenha explicitamente decidido sonegar essa informação, mas considerou que foi um erro não informar os utilizadores.
O New York Times destaca que esta é uma questão central para a Comissão Federal do Comércio (FTC), que poderá impor multas pesadas ao Facebook.
O senador Richard Blumenthal, democrata do Connecticut, considerou que o testemunho de Zuckerberg foi mais uma ronda de desculpas, já anteriormente ouvidas, disse que o Facebook não se auto-regulará e o Congresso deve fornecer uma solução, observando que se não houver uma lei o modelo de negócio da rede social será maximizar o lucro em detrimento da privacidade.
Zuckerberg considerou que houve muitos erros na actividade da companhia, mas defendeu que não seria possível começar uma empresa a partir do seu quarto de dormir e fazê-la crescer sem erros.
Três senadores propuseram terça-feira legislação que requer autorização dos utilizadores para recolha e partilha de informação.
Na Câmara de Representantes, quarta-feira, Zuckerberg foi questionado por Frank Pallone, democrata de New Jersey, sobre se o Facebook concordaria em que as definições por defeito fossem alteradas para minimizar a recolha de dados.
Zuckerberg apenas respondeu que é uma questão complexa e que merece mais do que uma palavra, o que levou Pallone a declarar-se desiludido.
A representante da Califórnia Anna Eshoo perguntou ao CEO do Facebook se estava disposto a alterar o modelo de negócio para proteger os dados pessoais, ao que Zuckerberg respondeu não estar seguro do que isso significa.
Respondendo a perguntas, Zuckerberg admitiu que a regulação é inevitável e não a repudiou, mas considerou que é preciso uma regulação certa porque alguma regulação apenas consolidaria as grandes empresas e afectaria as startups e defendeu uma regulação certa com os detalhes certos.
Relativamente à questão da Cambridge Analytica, alguns congressistas recordaram que a campanha de Obama utilizou também em 2012 uma app que recolhia informações dos utilizadores e dos seus amigos, mas o jornal alerta que essa app era muito clara sobre que dados recolhia e para que fins, além de ser uma app no Facebook enquanto a aplicação de Kogan era uma app alojada num sítio exterior ao Facebook.
Zuckerberg foi questionado sobre o que é exactamente o Facebook, se uma rede social, se um editor de media, se uma indústria de publicidade ou mesmo um fornecedor de serviços, e respondeu que considera ser uma companhia tecnológica, em que a primeira coisa que faz é ter engenheiros que escrevem código e constroem serviços para as pessoas.