O presidente executivo (CEO) do Facebook, Mark Zuckerberg, estima que no máximo 87 milhões de utilizadores do Facebook terão sido “apanhados” pela app «thisisyourdigitallife» de Aleksandr Kogan, psicólogo moldavo investigador da Universidade de Cambridge, e utilizados pela Cambridge Analytica.
Numa sessão de respostas a perguntas dos jornalistas, divulgada no sítio Internet da empresa Facebook, Zuckerberg garante o número de 50 milhões de afectados nunca foi divulgado pelo Facebook e afirma que a estimativa de 87 milhões é «conservadora» e poderão ser menos.
A Cambridge Analytica terá usado dados fornecidos por Kogan para influenciar as eleições dos Estados Unidos. Contudo, Kogan, em declarações a órgãos de comunicação social, considera que os dados não foram obtidos ilegitimamente e serviriam à Cambridge Analytica para analisar o comportamento humano nas redes sociais e que desconhecia que seriam utilizados na campanha de Trump
Nas notas iniciais, Mark Zuckerberg afirmou que o propósito do Facebook era disponibilizar ferramentas para as pessoas estarem ligadas, partilharem opiniões e fazerem negócio e reconheceu que a rede social não se focou suficientemente na prevenção de abusos e utilização das ferramentas para fins negativos, o que inclui notícias falsas, discursos de ódio, interferência externa em eleições e questões de privacidade de dados.
Recordou que há um par de semanas o Facebook anunciou uma investigação completa sobre todas as apps que têm grandes quantidades de dados de pessoas e medidas para restringir o volume de dados a que os «developers» (desenvolvedores de aplicações) podem ter acesso.
O CEO do Facebook disse que, depois de ter tomado consciência do que se passou nas eleições dos Estados Unidos, antes das eleições presidenciais francesas desenvolveram novas ferramentas de inteligência artificial (AI) e desactivaram mais de 30 mil contas falsas.
Salientou que a companhia tem actualmente mais de 15 mil pessoas a trabalhar em segurança e revisão de conteúdos e prevê ultrapassar 20 mil no final de 2018.
Face a perguntas de jornalistas sobre se o escândalo da Cambridge Analytyca poderia levar ao seu abandono da liderança do Facebook, Zuckerberg excluiu tal possibilidade.
Garantiu que ninguém foi despedido do Facebook devido ao escândalo. «Eu sou responsável pelo que acontece aqui», afirmou.
Questionado sobre o Regulamento Geral de Protecção de Dados Pessoais (RGPD), da União Europeia e que entra em vigor em Maio, Zuckerberg garantiu que este tipo de regulamentos «são muito positivos» e disse que pretende aplicar o RGPD não só na Europa como em todo o mundo, com as devidas adaptações às legislações locais.
Zuckerberg disse que o Facebook não vende nem venderá dados pessoais dos seus utilizadores, mas considerou que os utilizadores, se têm de ver publicidade, querem que seja boa, e para ser boa, se as pessoas dizem quais os seus interesses e aquilo com que se preocupam, a publicidade tem de estar desenhada para o que interessa às pessoas e é relevante para elas.
Relativamente à possibilidade de processar a Cambridge Analytica, Zuckerberg disse que, depois de as autoridades britânicas terminarem as suas investigações, o Facebook procederá a uma auditoria forense completa e decidirá se faz sentido tomar medidas legais, se forem necessárias para proteger a informação dos utilizadores.
O presidente executivo do Facebook recordou que em 2018 se realizam no mundo várias eleições importantes e que a companhia quer proteger a integridade dessas eleições e combater as notícias falsas, que podem ter três objectivos distintos.
O primeiro o lucro económico. Alguém lança a coisa mais sensacional que imagina, difunde-a pelas redes sociais e pela Internet e obtém muitos clicks, que geram receitas pela via da publicidade. Zuckerberg disse q ue isto se combate cortando-lhes esse lucro.
Um segundo objectivo vem de governos e outras entidades que tentam interferir em eleições, e a sua neutralização passa pela segurança e por remover completamente do Facebook os seus promotores.
Uma terceira ameaça é a actuação de órgãos de comunicação social legítimos, que não produzem notícias falsas mas por vezes só contam um lado da história, e a solução é a verificação dos factos e promover um jornalismo largamente confiável, que mostre todos os lados do problema e faça um trabalho correcto.