A administração Obama prepara uma iniciativa legislativa que termina com a devassa indiscriminada das comunicações pela NSA – National Security Agency e limitar a recolha de dados a casos em que há uma ordem judicial anunciou o New York Times.
Um artigo de Charlie Savage adianta que as empresas de telecomunicações farão registos normais por um prazo de 18 meses, mas será criado um novo tipo de ordem judicial que implica a entrega rápida das gravações em formato digital compatível numa base de continuidade, isto é, com envio de novas comunicações feitas ou recebidas pelos visados a partir da ordem judicial.
A empresa de segurança informática Sophos, citando o The Washington Post, afirma no seu blogue oficial que a NSA tem capacidade para gravar o conteúdo de todas as chamadas telefónicas de países estrangeiros e posteriormente ouvir essas comunicações até um mês depois da gravação.
Adianta que esta funcionalidade existe no âmbito do programa MYSTIC, que começou em 2009 e ficou completamente operacional em 2011, que já foi utilizado para espiar pelo menos um país, não revelado.
Contudo, há documentos que indicam que a NSA prevê usar o MYSTIC futuramente noutros países, segundo a imprensa norte-americana.
O aparente recuo – aparente porque em operações de agências secretas nunca há garantia de que aquilo que é anunciado seja efectivamente cumprido – não poderá ser desligado dos prejuízos de milhares de milhões de dólares que grandes empresas norte americanas do sector das tecnologias da informação e comunicações (TIC) estão a sofrer com esta polémica.
De facto, a recolha de informação de comunicações de empresas estrangeiras, nomeadamente a informação colocada na nuvem em centros de dados localizados nos Estados Unidos – mas não só – pode servir para múltiplos fins, nomeadamente - pelo menos na teoria - para espionagem industrial aproveitada por companhias norte americanas.
O New York Times, num artigo de Claire Cain Miller, indica casos de multinacionais dos Estados Unidos que estão a perder clientes devido à intercepção de comunicações pela NSA e cita o analista sénior de tecnologias da informação Daniel Castro, que estima que só a indústria de cloud dos EUA pode perder 35 mil milhões de dólares (mais de 25 mil milhões de euros) em 2016.
Adianta que a Microsoft está em perda de clientes, incluindo o governo do Brasil, e que a IBM está a investir cerca de 1,2 mil milhões de dólares para construir 15 centros de dados fora dos Estados Unidos, em localizações como Londres, Hong Kong e Sidney, para tentar tranquilizar os clientes em relação a umas eventual entrega dos seus dados às autoridades norte-americanas.
A consultora Forrester Research admite que as perdas das empresas tecnológicas norte-americanas decorrentes do escândalo de espionagem divulgado por Edward Snowden poderão ascender a 180 mil milhões de dólares (mais de 130 mil milhões de euros), o equivalente a um quarto das receitas da indústria.
John Frank, um alto responsável da Microsoft, indicou que tem ouvido clientes, especialmente empresas globais, que estão mais do que nunca preocupadas com as questões de onde os seus conteúdos estão armazenados, qual a sua segurança e como são utilizados.
O jornal cita James Staten, analista de cloud da Forrester, que indica que há empresas alemãs a explicitamente não convidarem companhias dos Estados Unidos para os seus negócios, mesmo quando seriam as mais adequadas.
A Runbox, um fornecedor de serviços de correio electrónico norueguês, que garante não aceitar ordens de autoridades estrangeiras para entregar informação pessoal, teve um aumento anual de 34% no número de clientes após o escândalo NSA.
O New York Times revela que o Brasil e a União Europeia, que usavam cabos submarinos norte-americanos nas comunicações intercontinentais, decidiram construir um cabo submarinos entre o Brasil e Portugal e entregaram a sua execução a empresas brasileiras e espanholas.
O Brasil anunciou também planos para deixar de utilizar o Microsoft Outlook como sistema de correio electrónico.
Finalmente há legisladores, incluindo na Alemanha, que defendem leis que tornem muito difícil ou mesmo tecnicamente impossível a operação de tecnológicas norte-americanas nos seus países, alegadamente para protegerem a privacidade, faz notar o diário nova-iorquino.
FV