As universidades precisam de ter uma cultura de exigência e os jovens devem ter competências que levem as empresas a ver vantagens em os contratar, defendeu hoje o presidente do Instituto Superior Técnico (IST), Arlindo de Oliveira.
Falando no 23.º Congresso das Comunicações no painel sobre o papel do ensino superior no actual contexto económico, Arlindo de Oliveira salientou que hoje existem poucas oportunidades de emprego para as pessoas com competências médias mas sustentou que as que têm competências técnicas elevadas obtêm emprego, em Portugal ou no estrangeiro.
O presidente do IST observou que há uma alteração muito profunda na cultura universitária e hoje muitos alunos do Técnico pensam em criar a sua própria empresa, sublinhando que as áreas de ciência e tecnologia e engenharias são cursos que dão mais emprego aos jovens.
Contudo, muitos jovens optam por ir para cursos superiores de outras áreas por os considerarem mais fáceis, um problema que não é só português mas global, precisou.
Para Arlindo Oliveira, não é óbvio que haja falta de pessoas formadas nas áreas da engenharia e ciência e tecnologia porque muitas pessoas licenciadas nessas áreas vão trabalhar para outras, ainda que o mercado possa absorver mais especialistas de algumas áreas específicas, como a engenharia informática.
O presidente do IST revelou que o Técnico tem actualmente 50 ou 60 empresas «start-ups» e revelou que as oito maiores facturam mais de 400 milhões de euros.
Fernando Santana, director da Faculdade de Ciências de Tecnologia (FCT) da Universidade Nova de Lisboa (UNL), disse que as instituições universitárias devem dar aos seus estudantes as competências de base, mas também estimular os jovens a pensar e a saber pensar.
Observou, contudo, que parte da formação dos profissionais é depois feita nas empresas.
Fernando Santana, também presidente da Academia de Engenharia, defendeu que as universidades têm de reflectir sobre as abordagens de transmissão do conhecimento e que a comunidade académica deve contactar com o mundo empresarial e colaborar no lançamento de novas empresas.
Relativamente ao financiamento das universidades, o director da FCT indicou que ao longo da vida de trabalho de um licenciado, em média o Estado vai recuperar em impostos 15 vezes o que gastou com o aluno.
Francisco Veloso, director da Universidade Católica (UCP), afirmou que a entrada no mundo do trabalho se faz cada vez mais apenas com o mestrado de Bolonha e que o mercado tende a escrutinar aptidões complementares como o trabalho em grupo ou a capacidade de comunicar.
Afirmou que em Portugal, ao contrário do que sucede em universidades de outros países, como a Alemanha, não há a tradição de estágios e experiência profissional ao longo do curso. Acrescentou que essa experiência é importante para arranjar emprego em Portugal após a conclusão do curso, mas ainda mais para conseguir colocação no estrangeiro.
O director da UCP sustentou que as universidades e escolas superiores portuguesas têm de ser competitivas a nível europeu e internacionalizarem-se, sob pena de ficarem como pequenas escolas regionais.
Joaquim Mourato, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos, preconizou uma formação escolar relacionada com as necessidades específicas identificadas pelas empresas e que os jovens precisam de compreender a necessidade de relação com a escola ao longo da vida porque as competências técnicas se vão desactualizando.
Joaquim Mourato sublinhou que é aos licenciados, com remunerações altas ou médias, que o estado vai buscar mais impostos, o que rentabiliza o investimento feito no ensino superior.
Salientou que as médias do ensino secundário são negativas e defendeu que é necessário fazer bom trabalho a montante do ensino superior para que os jovens tenham sucesso neste grau de ensino.